O sétimo Congresso da UEE (União Estadual dos Estudantes) sediado em Caconde, no final do mês de abril, trouxe à tona aquilo que a entidade tenta esconder e não dá conta: ser um anti-movimento.

Desde a abertura do Congresso até a Plenária final o que ficou em evidência foi à manipulação da discussão sob o tema da Reforma Universitária. O primeiro dia, sábado, 30 de abril, a mesa de debate teve como pauta a reforma universitária, os debatedores, incluindo aí o digníssimo Gustavo Petta, atual Presidente da UNE, mostravam suas opiniões favoráveis à reforma, porém o que deveria ter sido um debate, aberto para as intervenções, se tornou uma palestra pró-reforma. Nesse mesmo dia, à tarde, os Grupos de Discussão (GD´s) tentavam transformar aquele Congresso em algo mais democrático, havia seis grupos de discussão, divididos em três temáticas, Reforma Universitária, Conjuntura Nacional e movimento estudantil, como separar estas três temáticas.... só a organização do Congresso conseguiu tal proeza. Os GD´s tinham duração de duas horas, o que deu pra notar que as duas mil pessoas que deveriam estar participando ou ainda não tinham chegado ou estavam em alguma balada, porque não havia ali nem quinhentas pessoas.

Neste mesmo dia foram instaladas várias catracas no ginásio, no momento que estava acontecendo os GD`s. Enquanto as pessoas estavam lá fora, nas barracas de lona, manifestando suas idéias, os organizadores do Congresso tiveram a prepotência de colocar catracas, para o último dia do Congresso, que por coincidência era o mesmo dia em que seria decidido se os delegados eram contra ou a favor à reforma, e também quem seria o novo Presidente da UEE. Quem estava lá como observador, teria então que retirar o seu crachá, pagando R$ 20, para poder assistir a Plenária final. Houve uma indignação geral dos participantes, segundo um dos organizadores “este dinheiro é para cobrir as despesas, como alimentação e segurança”, porém se a entidade quisesse reverter este dinheiro para tais propósitos, teria cobrado antes essa quantia, na hora da inscrição. Renata Petta, representante da entidade alegou que o motivo da catraca era para se ter um maior controle na votação, porque havia denúncias de fraudes nos congressos passados.

O que foi visto no dia seguinte, era a passagem livre dos estudantes, não havia nenhum obstáculo, o tal controle contra as fraudes foi eliminado. E também dava para notar que o ginásio estava lotado, no começo da Plenária os representantes de todas as forças políticas tiveram o direito de falar sua posição em relação à reforma, de repente no meio de toda barulheira, ouvia-se um hino “Vamô, vamô, vamô embebedar....vamô embebedar até cair e vomitar!”, eram os estudantes da Univale, chegando ao Congresso, todos equipados com latinhas de cerveja nas mãos. A pergunta veio à tona:
- Porque vocês vieram a este Congresso? Beber?
-Não, (risadas), a gente veio pra representar a nossa universidade, o nosso curso.
-O que vocês estão achando do Congresso?
- A gente chegou ontem à noite, e isso aqui tá muito desorganizado.... não consegui tirar o crachá para delegado, também ontem na hora que chegamos, não havia mais lugares nos alojamentos, e todas as pousadas estavam lotadas...Tivemos que ficar na cidade vizinha.
- E vocês são contra ou a favor à reforma?
- Eu sou a favor, mas tem vários pontos que sou contra.
- Quais?
- Ah..... isso a gente não pode falar, é segredo da nossa universidade.
- Mas vocês não vieram aqui para representar a posição do seu curso, debater...?
- Então, a gente não pode falar não!

Através deste exemplo, ou melhor, desta entrevista que tenho gravada se ninguém acreditar, percebe-se a falta de esclarecimento dos estudantes sobre o que vem a ser esta tal reforma universitária, eles são a favor, embora nem saibam pontuar porque são adeptos a tal modificação no sistema educacional que o governo está tentando implantar. Outra pérola foi a de uma estudante da Unip-Alphaville, que nem sabia do que se tratava a reforma:
-É muito bom ter um congresso como este porque reuni jovens de vários lugares para debater a educação.E eu sou a favor da reforma.
-Porquê?
- Tem muita coisa que tem que ser melhorada nas universidades, e eu acho que a reforma dá conta disso, mas tem alguns pontos que eu não concordo.
- Quais?
- Éhhhhh....
- Você leu o anteprojeto? O que você vê de positivo?
- Olha para quem leu o projeto, tem muitas coisas boas, que vai ajudar na melhoria da educação, a reforma pega nas prioridades...
- Quais são as prioridades?
- Sabe o que que é....o pessoal que eu estou junto tá indo pra lá....
- Fala o seu nome completo então?
- É P. B.!

Enfim, não precisa nem falar nada. Tente você mesmo tirar uma conclusão do que foi este pseudo Congresso, qual é a relevância deste, como agia a massa de manobra, qual foi a intenção da entidade em transformar um espaço de debate num programa de auditório, estilo “Topa tudo por dinheiro!”

A decisão final, obviamente, foi o apoio à reforma, e o Presidente eleito, Augusto Chaves, da Unesp de Rio Claro, conchavo da família Petta, fez um discurso brilhante falando da independência da entidade, não atrelada a nenhum partido político...apenas sustentada pelo PcdoB, né, Augusto??

A partida foi desejada com alívio, mas também intrigada pela tristeza, decepção, revolta, constrangimento e desapontamento. O que fica para os estudantes, universitários como eu, que acha essa reforma o fim da picada, é combater toda essa estrutura falida inserida nestas entidades, que dizem nos representar. Ironicamente eles não conseguiram nos vencer, apesar de toda depressão pós- Congresso, martela na nossa cabeça a vontade de poder transformar, disseminar pelos quatro cantos, feito um passarinho, o que realmente nos interessa: ensino público e gratuito para todos!!!