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domingo, 30 de setembro de 2012

Domingo e os aromas do strogonoff de Dona Irma

Estava de gravata ainda.
Tirou o sutiã.
Pegou a vassoura.
Colocou Beatles.
E começou a faxina.
Organizar para desorganizar.
Assim começava o seu domingo.
Fez um lista de regras junto com o filho.
Ditou coisas que deveriam ser interferidas.
Ele escreveu a lista.
E fez uma pra sua mãe também.
Com 14 regras que devo seguir.
Que vão organizar a minha rotina.
Como por exemplo fazer brócolis pra ele.
E voltar para o pilates.
Comer três frutas por dia.
E me fez escrever repetitivamente: Estudar! Estudar! Estudar!
Eu sou uma mãe meio anárquica talvez.
E gosto de ser assim.
Se eu sei o que é melhor pra ele,
por que ele não pode saber o que é melhor pra mim ?
Ainda durmo na cama em formato de carro.
Sou tão criança em algumas ocasiões.
Mas isso vai mudar.....
Minha cama nova já está me esperando!
A Frida me olha fixamente.
Espera essa mudança.
Sabe que sou forte como ela.
Pelo simples fato de ser mulher.
E por mais que os homens escondam esse fato,
 são as mulheres que fazem esse mundo melhor!
Pode ser meu puro feminismo .
Que quer esbravejar aos quatro cantos;
Porém, o que vejo é nítido,
não está na teoria,
é no dia-a-dia mesmo
 é uma mulher guerreira que me mostra tudo isso.
Essa super Dona Irma,
que é minha heroína,
e todos me comparam com ela.
Se um dia eu conseguir....
chegar aos seus pés,
possuir essa integridade,
honestidade,
força,
fé,
sei que vou
lhe arrancar
o mais sincero sorriso.
(tão esperado por mim)




domingo, 23 de setembro de 2012

Já era tempo....

Ficou uma semana na fossa.

Começou a terapia.

Alinhou os chacras.

Assistiu 6 filmes.

Chorou muito.

Se sentiu a pior das cadelas.

Culpou-se intensamente.

Não encheu a cara.

Passou batom vermelho.

Colheu amoras.

Levou os livros para a casa nova.

Ouviu os passos da mãe.

Cantou para o filho dormir.

Sentiu  saudade.

E vontade.

Está sozinha.

Aprendendo na marra.

O seu propósito nessa vida.

Amanhã é segunda.

Vai recomeçar.

Já sabe.

Abriu uma nova janelinha na sua alma.

O pavão anuncia: Acorda! Já é hora!




sábado, 22 de setembro de 2012

Clara decide viver

Ele disse: pra você ficar bem precisa dançar, abraçar e beijar.

Clara saiu dali aliviada, a busca pelo seu ser em todos esses anos fora tão pesada e agora seria simples.

Gostava de dançar, aliás essa característica a fez conhecer muitas pessoas. Quando tinha uns 20 e poucos anos jogava o cabelão na frente do rosto, fechava os olhos, e sentia o baixo do blues gemendo em seu corpo, técnica ensinada por uma colega da classe de ciências sociais.

O blues, o rock´n´roll, o rum com coca-cola, eram objetos essenciais para as suas noites de farra. E era feliz. Extremamente feliz.

Depois veio a música eletrônica. No começo achava estranho aquelas pessoas que dançavam a noite inteira sem se cansar.
Preferiria observar, não sabia fazer os passos, sentia falta do rock....ou algo assim.

Demorou até se soltar, até entender o que fazia as pessoas se reunirem no meio do mato, e eram como irmãos, todos se amavam de uma só vez, em um único dia. De repente, chegou ao nascer do sol e dançou, dançou, fechava os olhos, sentia a brisa do amanhecer, sorria, seu coração sorria para todos, e descobriu o abraço fraterno de que tanto precisava há tanto tempo.

O que seria esse tal de "beijar", indagava-se. Lembra do primeiro beijo, todos a olhavam, as amigas estavam na maior expectativa, mais do que a própria Clara. Veio a imagem de um beijo tão inesquecível, estava no Stones, tocava Janis Joplin cover, com os olhos fechados sentiu alguém lhe beijar....alguém lhe roubou um beijo, não queria abrir os olhos, queria que continuasse o mistério, depois esse alguém foi um dos grandes amantes de Clara.

Pensou naquele frio na barriga que vem antes do beijo, sensação tão boa, e também dos afagos, do amanhecer, dos beijos escondidos....

Sairia para dançar, estava resolvido.
Abraçaria todos os amigos que encontrasse pela frente, um abraço bem dado, forte, de estalar coluna.
Iria nas festas de casamento, em raves, em bares que tocassem blues, em rodas de samba, quer ouvir no rádio "blues e derivados" só para ir treinando.

E beijar pensou, depois de tantos anos, é sim, pode parecer careta, mas sente agora que é algo tão íntimo, não tem necessidade de compartilhar com qualquer um ( esse desejo intenso de que todas as adolescentes solteiras passam, "tenho que beijar essa noite", não fazia mais sentido para Clara).
O que fazia sentido então? Beijar pai e mãe, há uns 10 anos não os beijava de maneira convincente. E tambem não os abraçava. Tem até medo de como vai fazer isso...já que é uma adulta.

E o outro tipo de beijo, o que vem do desejo, desse mal estar do estômago, não se sabe, se valer à pena, por quê não?

Clara pode até estar enganada. Mas vai tentar, outra vez, de qualquer forma ela decidiu viver.

sexta-feira, 14 de setembro de 2012

Preferiria não

Sou subversiva nas pequenas coisas.....

Quando nem penso em colocar silicone (aceito o meu peitinho numa boa, embora ache sexy mulher com peitão, mas de verdade!)
No momento em que tem um super carro colado em mim, eu reduzo a velocidade só para mostrar pro playboy que ele não é o dono da rua.
Quando atendo um mendigo no escritório de advocacia.

Esses dias atrás veio um senhor aqui, ainda vou montar a ação dele, ficou uma hora contando o sofrimento que é ser explorado....e eu disse simplesmente: eis o sistema capitalista!

Quando vou ao cinema sozinha.

Também quando me recuso a usar sutiã e salto alto.

Às vezes deixo de sair e fico em casa de molho lendo um livro pra acordar bem cedo no domingo.

Quando deixo de comprar aquele salgado sem graça da faculdade e chego em casa morrendo de fome!

Nas milhares de vezes que deixo o Antônio chupar mais de um picolé.....

Nos momentos que estou de saco cheio da vida, e chamo meus queridos companheiros de copo, Filipe e Thiago, pra só ficar falando merda....

Quando me recuso a ser o que as pessoas gostariam que eu fosse!

Nos meus palavrões cotidianos!

Na minha maneira de não me culpar pelos meus sentimentos.

Assim, desse jeito, de cabelo curto.

Sendo delicada e libertária no mesmo instante.

Quando atendo aos meus impulsos;

Quando falo "Preferiria não"



segunda-feira, 10 de setembro de 2012

Percilia

Acho que não nasci pra decidir nada, ou pra decidir coisa alguma.
Eu já nem sei como se escreve direito.
É verdade: não sei crase, estou apenas decorando as suas 300 mil hipóteses.
É verdade: não sei se quero ter um cargo público ou não ter horário pra bater cartão.
Outra indecisão: como vou pagar minhas contas no futuro ? ( só penso nesse bendito futuro ).
E mais: Qual é a minha serventia nesse mundo?
Você deve estar se questionando.... por que uma menina de 31 anos faz perguntas como se tivesse ainda 18 anos?
Tem insônia e não quer ler direito penal.
Não consegue pegar no sono porque tem que decidir tudo até o sol aparecer novamente.
Quer mesmo assistir "Eles não usam black tie".
Sair do cinema sozinha e andar pelas ruas da cidade, do mesmo modo que fazia em Campinas.
Quer gastar o dinheiro das aulas de português com outros tipos de aulas:
terapia, aula de "barman", espanhol, pintura, mestrado, feminismo.
Pensa: um dia vou terminar o curso de ciências sociais e virar antropóloga.
Pensa: um dia vou trabalhar numa Ong feminista e sobreviver .
Pensa: um dia vou advogar e fazer justiça sem me importar com os honorários.
Pensa: um dia vou ficar velhinha e viver de poesia!
Eita menina avoada.....essa Percilia!!