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terça-feira, 29 de julho de 2014

Blowing in the wind



Em tempos como esse, em que o filósofo Bakunin do século XIX é considerado  suspeito no inquérito policial que investiga os manifestantes presos recentemente no Rio de Janeiro, sendo acusados pelo crime de formação de quadrilha.

Tempos que são expedidos mandados de busca e apreensão, onde policiais apreendem nas casas dos ativistas objetos do nosso dia a dia, como: mouse, grampeador, agenda, revista, cd´s , camiseta de caveira, bandana da banda grunge dos anos 90 Nirvana, lanterna, Jornal A Nova democracia, caixa de papelão, fita crepe.

Tempos sombrios, que as principais testemunhas do IP supramencionado são ex-namorados (as) dos suspeitos, parecendo mesmo que a única quadrilha que faz sentido nessa história toda é a do poema de Drummond:

João amava Teresa que amava Raimundo
que amava Maria que amava Joaquim que amava Lili
que não amava ninguém.
João foi para os Estados Unidos, Teresa para o convento,
Raimundo morreu de desastre, Maria ficou para tia,
Joaquim suicidou-se e Lili casou com J. Pinto Fernandes
que não tinha entrado na história.

Tempos como esse que o seu direito de manifestação e liberdade de expressão, inseridos no Título II da Constituição Federal de 1988 “ Dos Direitos e Garantias Fundamentais”, considerados cláusulas pétreas, ou seja, não podem ser suprimidos da Constituição Cidadã, não valem nada, tempos que acreditamos erroneamente serem democráticos.

A falsa ideia de que votar vai fazer alguma diferença. Tempos como esse que articular reuniões em casa pode dar cadeia, vide o caso da advogada Eloisa Samy Santiago.

Tempos como esse que advogados ativistas levam porrada da polícia enquanto tentam defender as premissas da Constituição durante os atos públicos, que pessoas como o pedreiro Amarildo desparecem e são executados pela força repressora do Estado.

Anos de chumbo e repressão, Fábio Hideki que o diga, preso há mais de um mês, levou socos e chutes da PM fascista de São Paulo.

As denúncias feitas ao Ministério Público e a Corregedoria da Polícia sobre o abuso de poder dos policiais militares durante as manifestações ocorridas nas jornadas de junho de 2013 até agora não levaram a nenhuma punição dos mesmos, se foram punidos, a imprensa não noticiou.

Na reportagem de Tânia Caliari, “ Polícia: para quê polícia?”, veiculada na revista Retrato do Brasil, o Coronel Ibis Silva Pereira, subdiretor de Ensino da Polícia Militar do Rio de Janeiro, conceitua o que vem a ser o Estado e posteriormente a polícia, naquele sentido clássico de que “é a instituição que coloca em prática o monopólio legítimo da violência do Estado”:

“O Estado é um órgão que se estrutura a partir da ideia do monopólio da violência. É por isso que ele arranca nosso dinheiro pelos impostos, reboca nosso carro quando paramos no lugar errado, coloca a gente na cadeia, manda a polícia bater na gente quando a gente começa a quebrar o patrimônio dos outros”. “Esse é o Estado”, resume o policial, formado em Direito, com mestrado em História e pós-graduação em Filosofia, que dirigiu por dois anos a Academia de Polícia Militar Dom João VI, de formação de oficiais da PM fluminense.

De acordo com a pesquisa veiculada em abril de 2014 pelo GEVAC (Grupo de Estudos sobre Violência e Administração de Conflitos) da UFSCar ( Universidade Federal de São Carlos):

“ Entre os anos de 2009 e 2011, 939 casos de ações policiais foram analisados. O resultado aponta que 61% das vítimas de morte por policiais eram negras. No âmbito infanto-juvenil, os dados são mais alarmantes: entre 15 e 19 anos, duas a cada três pessoas mortas pela PM são negras”.

Para a União Popular Anarquista (UNIPA), a autodefesa é a única alternativa para que seja rompida essa estrutura do Estado- repressor (Comunicado nº 07 # Abril de 2005):
 
"A única alternativa para os trabalhadores pobres, os negros e pardos, que são as principais vítimas da violência policial, é a organização para autodefesa. O proletariado precisa defender-se da violência, através da formação de grupos de autodefesa que possam opor uma forte resistência à violência policial nos seus locais de moradia (…) Os grupos de autodefesa contra a violência policial e também às quadrilhas de criminosos, serão compostos por trabalhadores e trabalhadoras, organizados localmente e controlados democraticamente. Estes grupos devem assumir a função de defender a vida dos trabalhadores e os seus direitos civis (liberdade de organização, expressão), que são tolhidos pela violência policial.
A punição dos culpados pelos massacres e violências contra o povo, só será realizada pela pressão popular, das famílias das vítimas e de todos os trabalhadores. Mas para que esta organização seja possível, é preciso que os lideres comunitários tenham uma real garantia de vida”.


Por falar em autodefesa, não temos como deixar de citar os Panteras Negras, símbolo da resistência norte-americana em defesa dos direitos civis dos negros, formado em 1966, eram conhecidos pelas suas ações contra a brutalidade policial. Em outubro desse mesmo ano lançaram a Plataforma e Programa, que no item 7 anuncia:

7. Queremos um fim imediato à brutalidade pessoal e ao assassinato do povo negro.
Acreditamos que podemos encerrar a brutalidade policial em nossa comunidade negra organizando grupos negros de autodefesa, dedicados a defender nossa comunidade da opressão e brutalidade policial. A segunda emenda à constituição dos Estados Unidos dá o direito de portar armas. Portanto, acreditamos que todas as pessoas negras devam se armar para a autodefesa.
 
Nessa perspectiva, rebelar-se é justo, já que ,conforme nos ensina Walter Benjamim, “A tradição dos oprimidos nos ensina que o estado de exceção em que vivemos é, na verdade, regra geral”.

O Estado de exceção é aqui e é agora, pois apesar da promulgação da Constituição Federal, e de nos ser garantido esse direito de expressão sem amarras, o Estado continua se utilizando do poder de polícia para nos punir. O Estado é ao mesmo tempo paternalista e punitivo. Aprendemos com a história, com os Panteras Negras, Bobby Seale, um dos fundadores dos Black Panthers, disse:

"Não combatemos racismo com racismo. Combatemos racismo com solidariedade. Não combatemos o capitalismo explorador com capitalismo negro. Combatemos o capitalismo com o socialismo básico. E não combatemos o imperialismo com mais imperialismo. Combatemos o imperialismo com o internacionalismo proletário”.


Fontes:






http://ultimainstancia.uol.com.br/conteudo/noticias/70082/estudo+sobre+violencia+policial+revela+racismo+institucional+na+pm+de+sp+assista+ao+video.shtml







sexta-feira, 4 de julho de 2014

Romance ideal

E não foi amor a primeira vista. Porque a gente já se conhecia há anos. Eu acho que até o paquerei um pouco no ínicio, quando o conheci, mas isso nem conta, porque naquela época paquerava todo mundo. E não existia uma atração com feedback, ele não me olhava com interesse.
Depois sumiu do mapa, eu também me apaixonei perdidamente por outra pessoa.
E fomos vivendo, um pra cada lado, raramente o encontrava e se acontecia era de relance.
E aí teve um dia que nos esbarramos num bar.
E conversamos por horas.
Parecia até que nem fazia tanto tempo que eu não o encontrava.
Parecia que éramos melhores amigos.
E essas coisas da vida e do coração que não tem explicação.
Tínhamos o mesmo anseio por liberdade.
Mudar o mundo era o que nos movia.
Fazer barrificadas, fechar as ruas, abrir as vias.
A política do dia-a-dia, ações diretas, um outro mundo possível.
Ó abre-alas que eu quero passar !
Advogados libertários, eis a nossa profissão.
E como não se apaixonar nesse mar de possibilidades ?
Eu já não tinha como disfarçar.
No começo me senti muito culpada.
Não entendia meus sentimentos.
Mas uma coisa era certa: não queria cometer os mesmos erros.
Pensava que depois que me separasse, ele iria me encarar, me abraçar e pronto.
Logicamente não foi nada disso que aconteceu.
Nessa noite tão esperada, ele ironicamente disse: A vida é dura !
Aprendi na marra que o romance ideal só existe em filmes.
Woody Allen que o diga !
Pensei então: enfim, só !
A maturidade dos 30 nos faz sofrer, só que, pelo menos pra mim, é mais fácil levantar a cabeça e seguir em frente. Olhar para trás é inevitável, contudo a estrada adiante é mais interessante.
Fui.....durou  duas semanas?
E ele veio até a mim.
Sem medo, sem receio, do jeito que eu nem sabia mais que poderia ser.
Porque já estava cansada de ter que forçar a barra.
Nos outros relacionamentos, eu sempre tava ali, esperando, meio que cobrando inconscientemente.
Agora estamos aí, juntos, caminhando.
A luta é inevitável.
E debatemos política, e também fazemos amor, e entre um cigarro e outro, dormimos.
Vamos viajar, e já acho que o Woody Allen acerta em cheio nos seus romances improváveis.
Tenho uma saudade louca daquilo que nem aconteceu.