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sexta-feira, 28 de fevereiro de 2014

ONU, MS e Puccinelli






O Governador André Puccinelli anunciou que no mês de março a  sede central da ONU em Nova Iorque irá receber a exposição "Mato Grosso do Sul visto pelo mundo",  que ficará aberta ao público entre os dias 12 e 27 de março.
Reproduzindo o que saiu na mídia local:

"A exposição visa divulgar as potencialidades turísticas, culturais, industriais e do agronegócio, além de contribuir para o desenvolvimento econômico e promover as riquezas de Mato Grosso do Sul.
O governador André Puccinelli relatou a importância de Mato Grosso do Sul ser visto por um público tão seleto e em uma das cidades mais visitadas do planeta, fazendo com que o Estado concentre esforços para levar o maior número de artistas e obras possível. “Estamos indo nos mostrar e queremos que além dos 12 artistas selecionados pela própria ONU, possamos levar mais artistas nas mostras paralelas e empresários nas rodadas de negócio que realizaremos fora da ONU. Vamos para mostrar que Mato Grosso do Sul existe e o Estado que se tornar uma ilha de prosperidade e uma grande oportunidade de negócios para aqueles que querem empreender de forma sustentável por aqui”, disse". (http://www.amambainoticias.com.br/educacao-e-cultura/cultura-de-ms-sera-exposta-em-uma-das-cidades-mais-visitadas-do-mundo)

“Os artistas atuantes em Mato Grosso do Sul, que destacam em suas obras o nosso cenário, foram selecionados para o projeto”, informa Vanuza Jardim.
No artesanato teremos o trabalho do grupo Amassa Barro de Corumbá; Mãos à Obra de Jardim; Art Fish de Mundo Novo; de Bodoquena a cerâmica kadiwéu tendo a índia Maria Auxiliadora como representante; de Campo Grande, o trabalho de Mariano Monteiro com Conceição dos Bugres, Thaycoti de Leslie Gaffuri, o artesanato com fibras da bananeira de Lucimar Maldonado, a cerâmica terena com Cleuza Terena". (http://www.correiodoestado.com.br/noticias/arte-de-mato-grosso-do-sul-invade-ruas-de-nova-iorque-em-exp_205881/)

Nossa, como esse Governo atual está interessado na disseminação da cultura sul-matogrossense, vai levar a arte indígena para a sede da ONU, como se realmente estivesse interessado em promover o trabalho dos indígenas, peraí...esse Puccinelli  é aquele Governador que declarou durante uma audiência pública realizada na Comissão de Agricultura e Reforma Agrária do Senado, no dia 21 de novembro de 2013, o seguinte:

“Chega de invasão. Vou começar a dar o direito de se defender com armas, como provavelmente os produtores rurais terão na defesa de sua propriedade, como diz a Constituição”.

Bom, eu acho que o Senhor Governador esqueceu de ler a Declaração das Nações Unidas sobre os Direitos dos Povos Indígenas ( já que resolveu levar a arte terena e kadiwéu para a gringa, deveria se informar melhor sobre o que a ONU pensa em relação aos direitos indígenas) , que preconiza no seu art. 26:

Artigo 26
1. Os povos indígenas têm direito as terras, territórios e recursos que tradicionalmente tem possuído, ocupado ou de outra forma utilizado ou adquirido.
2. Os povos indígenas têm direito de possuir, utilizar, desenvolver e controlar as terras, territórios e recursos que possuem em razão da propriedade tradicional ou outra forma tradicional de ocupação ou utilização, assim como aqueles que haviam adquirido de outra forma.
3. Os Estados assegurarão o reconhecimento e proteção jurídica dessas terras, territórios e recursos. Este reconhecimento respeitará devidamente os costumes, as tradições e os sistemas de posse da terra dos povos indígenas de que se trate.

Ademais, lendo a Declaração mencionada acima, a fala do Governador pode ser enquadrada no art. 8º, alínea "e", o Estado de MS deveria ressarcir todos os indígenas que vivem aqui, só pela declaração fascista do nosso Excelentíssimo Governador, senão vejamos:
 
Artigo 8
1. Os povos e as pessoas indígenas têm direito a não sofrer a assimilação forçada ou a destruição de sua cultura.
2. Os Estados estabeleceram mecanismos eficazes para a prevenção e o ressarcimento de:
a) Todo ato que tenha por objeto ou conseqüência privar aos povos e as pessoas indígenas de sua integridade como povos distintos ou de seus valores culturais ou sua identidade étnica;
b) Todo ato que tenha por objeto ou conseqüência alhear-lhes suas terras, territórios ou recursos;
c) Toda forma de mudança forçada de local de povoado que tenha por objeto ou conseqüência a violação ou o menosprezo de qualquer de seus direitos;
d) Toda forma de assimilação ou integração forçadas;
e) Toda forma de propaganda que tenha como fim promover ou incitar à discriminação racial ou étnica dirigida contra eles.
 
A ONU foi instituída após a segunda guerra mundial a fim de apaziguar as rixas dos países envolvidos na grande guerra, com a pretensão de se estabelecer finalmente a paz mundial.  Lendo o plano de ação do Secretário-Geral (Ban Ki- Moon) para os próximos cinco anos (2012/2016) tenho a impressão que essa organização pretende salvar o mundo. São estratégias vinculadas em prol do desenvolvimento sustentável, de combate as  alterações climáticas, prevenção de conflitos, prevenção da violação de direitos humanos e etc.
 
"A Declaração das Nações Unidas sobre os Direitos dos Povos Indígenas não estabelece novos direitos, mas reconhece e afirma direitos fundamentais universais no contexto das culturas, realidades e necessidades indígenas (...)  O documento registra o compromisso dos Estados para tomarem medidas a fim de ajudar e garantir que os povos indígenas  tenham respeitados os seus anseios e decisões sobre os assuntos que lhes dizem respeito (...) A Declaração reflete um compromisso do Estado e todos os seus poderes – no nível federal, estadual e municipal - com os povos indígenas. Assim, a Declaração pode ser usada para guiar projetos de leis, políticas públicas e decisões judiciais sobre assuntos indígenas em todos os níveis".

 
Enfim, como o Brasil votou a favor da Declaração, o nosso Governador deveria ao menos dar uma lida no documento enquanto estiver no avião durante a sua ida aos EUA.
 
Talvez expor a arte indígena de MS na sede da ONU não seja boa ideia, ainda mais quase se ultiliza de tal desculpa para na verdade promover as "rodadas de negócio", ainda mais quando a BBC nessa semana informou ao mundo :
 
" Entre 2007 e 2013, o Distrito Sanitário Especial Indígena (DSEI) de Mato Grosso do Sul registrou 487 mortes violentas de índios, das quais 137 por homicídio.
Ao menos 14 assassinatos ocorreram em 2013 na reserva de Dourados, onde Doraci perdeu seus filhos. O dado confere à área o índice aproximado de 100 mortes por 100 mil habitantes, maior que a taxa de homicídios no Brasil (25,8) e até que a da capital mais violenta do país, Maceió (79,8)". (http://www.bbc.co.uk/portuguese/noticias/2014/02/140221_sub_indios_violencia_pai_jf.shtml).
 
Na Big Apple, 200 outdoors espalhados pela cidade irão demonstrar a beleza do estado de Mato Grosso do Sul, é muita hipocrisia tendo em vista a miserabilidade que vivem os povos indígenas aqui no Oeste.
 
  
 
 
 
 
 
 
 
          

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