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quinta-feira, 25 de outubro de 2012

Luta

O barulho dos pássaros me fez transportar para a beira do rio salobra onde a vida é mansa.
Fez o meu pai voltar a sua infância em Porto Felicidade, perto da Vila Juti, local hoje incerto e não sabido.
-É uma calmaria essa vida de passarinhar.
Léo que o diga !!  Fitá-los e saber tudo sobre o cantar de cada um....é poesia dividida em várias vertentes, é como aquela boneca russa matrioska, um canto vai se encaixando no outro.

Estamos acostumados com o zig- zag dos carros, com o tic- tac dos relógios, celulares tocando a música que pega na cabeça, com tudo na maior velocidade, que quando se percebe que a vida vem de uma breve correnteza de rio, de pássaros fazendo seus ninhos, de arauanquãs discutindo, e tudo num mesmo tom, não tem como não fechar os olhos e invadir a alma com bons pensamentos.

Mas ao mesmo tempo essa natureza perdida me faz remeter a problemática dos índios daqui do Mato Grosso do Sul.
Meu pai ouvindo suas canções em guarani me lembra que tenho sangue índigena e não se pode fechar os olhos.

Ele fala que a mãe dele era uma índia e o seu pai paraguaio.
Nunca os vi.
Ás vezes acho que é invenção, meu pai é um contador de histórias, um dos melhores que já conheci.
Só que me sinto paraguaia, índia, portuguesa e sergipana.

E sei que não tenho uma história de luta relacionada com a causa indígena, porém, o que vem acontecendo ultimamente é inadmissível pra qualquer um, não se pode fingir que está tudo bem, que essa questão não me pertence.

O que fazer então??

Como tirar a venda dos olhos dos outros cidadãos?

Pior, como fazer a justiça brasileira cumprir o seu papel?

Os Guarani-Kaiowá e Kadiwéus estão condenados a não terem sequer um pedaço de terra para ser enterrados com seus antepassados, podem ser eliminados da história brasileira pelo simples fato da máquina burocrática pender para o lado dos grandes latifundiários.

E assim se restar algum indivíduo "silvícola" vai servir de mão de obra para a mais nova satisfação financeira do Estado: usinas de álcool.

Que grande futuro....
Tenho medo ! Antônio perguntou uma vez pra mim porque ele era tão branco, e se ficasse no sol ficaria da minha cor, disse que queria ter nascido índio.

Ele é...todos nós somos !!Basta abrir os olhos !!

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